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Flona IPANEMA ruinasRuínas da antiga Fábrica de Ferro Ipanema, a primeira siderúrgica brasileira, que se manteve ativa até 1895.

 

Análise de Viabilidade Ecoturística da Flona de Ipanema


Apresentação

A presente análise técnica foi elaborada pelo consultor Roberto M.F. Mourão, por demanda do Sr. Eduardo Martins, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em fevereiro de 1997, com a finalidade de analisar preliminarmente a viabilidade do uso ecoturístico das floresta nacionais, iniciando a análise pela Flona de Ipanema.

No ambito governamental, a primeira iniciativa brasileira para o ordenamento da atividade do então denominado “turismo ecológico”, ocorreu em 1987 com a criação de uma Comissão Técnica Nacional, constituida por técnicos da Embratur e do Ibama, em resposta às práticas existentes na época, não organizadas e pouco sustentáveis.

Posteriormente, com as articulações inter-institucionais entre o Ministério do Meio Ambiente MMA / IBAMA e o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo - MICT / EMBRATUR, em 1994, ficam estabelecidas as “Diretrizes para a Política Nacional de Ecoturismo”, documento que prevê o desenvolvimento de tecnologias e a implantação de infraestrutura nos destinos ecoturísticos prioritários, tais como unidades de conservação.

Este projeto vem propor o desenvolvimento do ecoturismo nas Florestas Nacionais, de acordo com as linhas de ações definidas nas “Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo”.

As Florestas Nacionais - Flonas - são unidades de conservação de uso sustentável, de domínio público, providas de cobertura vegetal nativa ou plantada, que se destinam ao cumprimento de objetivos economicos por meio do manejo dos recursos naturais, com ênfase na produção de madeira e outros produtos vegetais; bem como na proteção dos recursos hídricos, belezas cênicas e dos sítios históricos e arqueológicos, além de fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica aplicada, da educação ambiental e das atividades de recreação, lazer e turismo.

Atualmente existem 39 Flonas (dados de 1997), abrangendo a área de aproximadamente 12,6 milhões de hectares, que correspondem a 1,48% do território brasileiro, distribuidas em 24 unidades na Região Norte, 1 na Região Nordeste, 5 na Região Sudeste e 9 na Região Sul.


Objetivo

O projeto, caso seja aceita a proposta de implementação do ecoturismo em unidades de conservação, visará a implantação de empreendimentos ecoturisticos em 8 Flonas para que caracterizem-se como destinos de alta qualidade e, possam servir como parametro para as demais florestas nacionais, assim como, eventualmente outras categorias de unidades de conservação.

Tendo em vista o caráter piloto do projeto, foram selecionadas flonas a partir dos seguintes critérios: 

  • localização geográfica
  • facilidade de acesso
  • representatividade regional
  • atrativos naturais, cênicos e históricos-culturais
  • infraestrutura existente na unidade
  • infraestrutura de entorno à unidade
  • demanda potencial de visitação
  • vocação para o ecoturismo 

As Flonas inicialmente selecionadas são:

  • Flona de Araripe (CE)
  • Flona de Canela (RS)
  • Flona de Ipanema (SP)
  • Flona de Irati (PR)
  • Flona de Passa Quatro (MG)
  • Flona de São Francisco de Paula (RS)
  • Flona de Tapajós (PA)
  • Flona de Três Barras (SC)

 

História

Histórico da Exploração e Uso Industrial

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Visitação Pública

Segundo a Administração da unidade, é crescente o interesse e o número de visitantes à Flona.

O controle de visitação, iniciado em 1995, contabilizou cerca de 40 visitantes em 1995, ~ 500 em 96 e a expectativa que este número chegue a 5.000 em 1997, conforme mostram as visitas ocorridas até o presente e as reservas para o ano.


Características

A Floresta Nacional adotou o nome da propriedade original da Fazenda Ipanema, em sua origem Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, às margens do Rio Ipanema, criada em 1810.

Com uma área de 5.069,73 ha, abrange parte dos municípios paulistas de Iperó, Araçoiaba da Serra e Capela do Alto, possuindo imóveis tombados como sítio histórico pelo IPHAN. Bioma: Mata Atlântica, Floresta Estacional Semidecidual, Cerrado.

Criação: 20 de maio de 1992 - Decreto nº 530.
Contato telefone.: (15) 266-9090

A Floresta Nacional de Ipanema é uma unidade de conservação de uso sustentável, subordinada à Diretoria de Florestas do IBAMA.

Estando localizada no município paulista de Iperó, distante aproximadamente 120 km da capital de São Paulo, próximo à cidade de Sorocaba (20 km).

Pode ser acessada pelas rodovias Raposo Tavares (SP 270) e pela Presidente Castello Branco (SP 280).

Relevo

A Flona situa-se entre as altitudes de 600 m, em seus vales e calhas de rios, a quase 900m, na Serra de Araiçoba, cujos espigões situam-se a uma altitude máxima de 875m.

Vegetação / Meio Físico Usos Área (hectares)

Sede administrativa, vilas, residências e sítios históricos 50 ha Floresta Estacional Semidecidual (em regeneração) 2.800 ha Capoeira (grotões) e Cerrado 538 ha Várzea, açudes e represas 250 ha Reflorestamento com espécies de crescimento rápido e nativas 221 ha Assentamentos rurais 1.210 ha Total 5.069 ha

Clima

A Floresta Nacional de Ipanema é atravessada em sua parte sul pelo Trópico de Capricórnio, localizando-se assim em uma zona de transição, de tropical para temperada. Clima subtropical quente, úmido, com inverno menos seco, precipitação oscila entre 30 ~ 60mm, temperaturas máximas superiores a 22°C e mínimas inferiores a 18°C. A precipitação média anual região é de 1.350, com mínimo de 800mm e máximo de 2.200mm. Os meses menos úmidos vão de agosto a novembro e os mais úmidos vão de março a junho.

Hidrografia

Seus cursos d’água integram as bacias dos Rio Tiête e Sorocaba e sub-bacias do Rio Ipanema.

Fauna (estimada, parcial a ser confirmada)

flona ipanema especies ocorrencia

Flora

A vegetação da Floresta Nacional de Ipanema é de “Floresta Estacional Semidecidual” (maior parcela), com áreas de Floresta Ombrófila Densa e áreas de Cerrado (em recuperação). Deve-se destacar que a Flona possui cerca de 200 hectares reflorestados de eucalipto. Também ocorre uma pequena parcela de reflorestamento de espécies nativas, em especial o Ipê amarelo (Tabebuia chrysotricha) e o Pau-brasil (Caesalpinia echinata).

Patrimônio Histórico-cultural

A Unidade conta com imóveis (alguns necessitando manutenção para seu uso turístico), máquinário e equipamentos, além dos sítios arqueológicos e patrimônio histórico cultural tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Estes constituem importante conjunto de atrativos históricos-culturais com potencial para o desenvolvimento de produtos turísticos.

Comunidades Locais / Regionais

  • Vila: cerca de 50 moradias com aproximadamente 200 habitantes (adultos e crianças)
  • Assentamento: cerca de 150 lotes, com aproximadamente 250 famílias / 750 assentados.

 

Atenção a potenciais Impactos Negativos

Especial atenção deverá ser dada aos impactos e/ou falta da adequada manutenção a processos erosivos em trilhas e à vegetação ciliar em alguns trechos dos corpos d’água da Flona, que necessitam de recomposição. A manutenção e recuperação destes poderá ser tema de educação ambiental para funcionários e comunidades locais regionais (vila e assentamento).

 

Potencial Ecoturístico

A Flona e seu entorno imediato, visando prioritariamente as populações locais e regionais, tem importante alto potencial para o ecoturismo e educação ambiental. Mas em virtude da proximidade de outras cidades de médio e grande porte, inclusive a capital do Estado, São Paulo, o uso da Flona poderá ser ampliado caso sejam devidamente utilizado seus recursos naturais e histório-culturais para o desenvolvimento de produtos ecoturísticos.

Temos a destacar que as instalações da sede administrativa (~ 6.500m?), com auditório (150 pessoas), anfiteatros (5), além dos espaços para exposições e demais serviços, permite o atendimento de grupos e realizar eventos com segurança e conforto. Inclusive, com possibilidade de utilização dos alojamentos para pernoite para mais de 100 pessoas.

Esta infraestrutura associada às áreas de lazer externas com açudes, constituem agradáveis espaços complementares. Especial atenção deverá ser dada à manutenção, recuperação, interpretação do sistema de trilhas, fundamental para os visitantes e para educação ambiental.

Destacamos as trilhas:

  • Trilha da Capivara
  • Trilha da Pedra Santa
  • Trilha de Afonso Sardinha (bandeirante)
  • Trilha do Cobra
  • Trilha Fornos de Cal
  • Trilha Foz do Rio Verde

O viveiro de mudas nativas da unidade deve ser considerada uma excelente ferramenta de informação e sensibilização ambiental. Merece especial tratamento para a educação formal (na grade curricular convencional) e educação não-formal do uso sustentável da biodiversidade para comunidades em geral.

Outros atrativos históricos-culturais a serem considerados (adequados e interpretados), a destacar:

  • Casa da Guarda
  • Casa das Armas Brancas
  • Cemitério Protestante (primeiro do Brasil)
  • Cruz de Ferro
  • Estação Ferroviária Varnhagen
  • Forno de Mursa / Fornos Geminados
  • Fornos de Carvão
  • Fornos de Ustulação
  • Gruta do Monge
  • Mirante da Chilena (natural)
  • Serra Araçoiaba
  • Monumento ao Visconde de Porto Seguro
  • Monumento e Cruzeiro da Pedra Santa
  • Real Fábrica de Ferro
  • Relógio de Sol
  • Represa Hedberg
  • Ruína da Fábrica de Hedberg
  • Serraria


Plano de Manejo / Uso Publico

Tendo em vista a elaboração futura de Plano de Manejo da Unidade, conforme informação da presidência do IBAMA, temos a informar e comentar que:

  • no contexto do manejo da presente unidade, o Programa de Uso Público tem por objetivos proporcionar a iteração direta do público com os recursos naturais da Floresta Nacional de Ipanema, demonstrando sua relevância quanto a aspectos ambientais, sociais, e históricos-culturais
  • os estudos e pesquisas compreendidos na elaboração do Plano de Manejo sejam utilizados futuramente e de forma adequada nas atividades lúdicas e educacionais;
  • o estabelecimento de uso público no manejo poderá estumular comunidades de entorno a posturas tais como “adotar”, respeitar e proteger a UC, oferecendo oportunidade para informação e sensibilização ambiental relacionadas à recreação / visitação;
  • é de suma importância a implementação de Centro de Visitantes associado aos sistema de trilhas e aos demais atrativos históricos
  • de forma a apoiar os programas recreativos e de educação;
  • deverá ser considerado um programa de comunicação interna (funcionários) e externa (comunidades, escolas) para divulgação dos trabalhos e oportunidades de visitação.

 

Consideração Finais 

Não temos duvidas de que os atrativos naturais e históricos-culturais da Floresta Nacional de Ipanema são um excepcional patrimônio com elevado potencial para a educação ambiental e indução de fluxos de visitantes, em especial para habitantes locais e regionais.

Deve-se ter em mente que o planejamento da unidade para uso ecoturístico deve também considerar a unidade e seu entorno como uma “unidade de negócios” do ponto de vista financeiros, possibilitando gerar recursos, preliminarmente, para sua manutenção e para a comunidade de entorno com a criação de oportunidades de emprego e geração de pequenos negócios (artesanato, transporte, condução de visitantes, etc.)

Esta análise não encerra a discussão sobre o desenvolvimento ecoturístico da Flona de Ipanema, mas serve para subsidiar este e outros estudos em florestas nacionais. Para finalizar, temos de ter em mente que todas as propostas de implementação do turismo sejam responsáveis e considerar mínimos impactos culturais e ambientais, assim como devem fazer parte do Plano de Manejo da unidade de conservação.

 

Notas:

  • Ipanema, em Tupi-Guarani significa: rio sem peixes, água ruim.
  • Unidades de Conservação de Usos Sustentável permitem o aproveitamento economico direto de forma planejada e regulamentada. São identificadas como Unidades de Conservação de Uso Direto. Estão inclusas nesta categoria as Áreas de Proteção Ambiental, Áreas de Relevante interesse Ecológico, Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas, Reservas de Fauna, Reservas de Desenvlvimento Sutentável e Reservas Particulares do Patrimonio Natural.
  • Importante considerar o envolvimento desta população local no contexto turístico futuro, assim como outras regionais.