Polo Ecoturístico da Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ
Relatório de Análise Turística (julho 2002)
Impacto da Visitação
Infraestrutura Básica
Água
O Córrego do Abraão possui uma barragem que armazena 45 m³ lits de água, que abastecia o antigo Lazareto, e que hoje abastece parte da Vila do Abraão.
O Córrego do Bicão é utilizado para abastecimento de grande parte da Vila do Abraão, mas não possui sistema adequado, tampouco reservatórios ou barragens. Algumas caixas de passagem e os reservatórios que abastecem a Vila são utilizados há 30 anos - reservatórios e caixas somam uma capacidade de 95 m³.
O tratamento da água é feito de forma rudimentar (com cloro) e não existem filtros. Quando chove muito, a comunidade recebe água barrenta, causando inclusive o entupimento das mangueiras e canos, chegando a ponto de eventualmente haver queima de chuveiros elétricos. Em épocas de estiagem e alto consumo, algumas residências, pousadas e campings ficam sem água. Felizmente as maiores estiagens ocorrem quando há menor consumo (baixa temporada, inverno). Isto indica o cuidado que se deve ter ao fomentar um aumento no fluxo turístico entre os meses de maio a outubro, pois se o sistema de coleta e distribuição de água não estiver adequado, há chance de o abastecimento ser insuficiente.
Nas outras vilas o abastecimento de água é feito a partir de pequenos reservatórios que recebem água de pequenos córregos. A distribuição é simples, sendo que muitas casas e pousadas captam água por conta própria. Para se diagnosticar melhor a situação nestas vilas sugere-se que um levantamento mais detalhado seja feito.
Saneamento - Vila do Abraão
Usando como ocupação média máxima a taxa de 88%, correspondente ao mês com maior visitação (janeiro) e aplicando o percentual sobre o total de leitos (considerando somente as pousadas e campings), sabendo o número aproximado de moradores (IBGE, 2000) e o consumo (e esgoto gerado) per capita de água (150 litros) e de lixo produzido (0,9 kg), temos a seguinte evolução da visitação, na Vila do Abraão, e uso dos recursos básicos como mostra a tabela abaixo.
Com previsão de crescimento de 13% ao ano no número de pousadas, e aplicando este percentual ao número de leitos podemos verificar como ficarão as condições da infraestrutura básica da Vila do Abraão. Com esta estimativa pode-se prever a necessidade de readaptar a rede de infraestrutura básica: água, esgoto e lixo, confome mostra a tabela.
Com a previsão de crescimento e sabendo que a capacidade de processamento do esgoto é de 1 milhão de litros por dia, podemos concluir que cada vez mais o sistema deixará de processar o total do esgoto gerado. Atualmente (2002) podemos notar que a competência do tratamento está praticamente no limite, se o sistema funcionar em plena carga.
Soma-se a isto o fato de não estarmos considerando dois tipos de visitantes, o veranista e o diarista, que como mostramos na tabela, pode chegar a 75% dos visitantes. Não contabilizamos os leitos de casas e suítes.
Usamos ainda alguns números que provavelmente irão mudar ao longo dos anos, como: taxa de ocupação de 88% e número de moradores. Isto sem mencionar que o sistema não vem atendendo satisfatoriamente a Vila, além da população local, em geral, não estar utilizando corretamente a rede, pois esta é sobrecarregada com águas pluviais, dejetos inorgânicos, etc.
Segundo o engenheiro ambiental contratado para elaborar o diagnóstico e propor ações para melhoria da qualidade do serviço, mais de 90% das residências da Vila do Abraão são atendidas pela rede pública. Com isso, teoricamente, diminuiria a possibilidade de ocorrência de doenças e melhoraria a qualidade de vida dos moradores. Contudo, vários problemas são nitidamente observados.
Quando a rede foi refeita solicitou-se que os moradores deixassem de usar as fossas sépticas e ligassem os canos diretamente na rede. É preciso dizer que existiam fossas mal construídas, que não ajudavam a limpeza do esgoto e eram prejudiciais à saúde do morador, e fossas muito bem feitas que filtravam o esgoto antes de jogar na rede.
Problemas identificados na rede pública
- A maioria dos campings não possui fossas e inexiste caixa de gordura nos outros estabelecimentos comerciais
- A rede pluvial é ligada na rede pública sobrecarregando o sistema
- A água das piscinas de algumas pousadas é jogada na rede de esgoto
- Com as chuvas, o sistema fica deficitário necessitando manobras para evitar o transbordamento do R.A.F.A. (Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente), nem sempre bem sucedidas.
Segundo técnicos consultados, o sistema de coleta e tratamento do esgoto, com esta demanda, é suficiente para a Vila do Abraão. O problema é a quantidade de água que é jogada na rede, sobrecarregando o sistema. Quando ocorre uma sobrecarga, o excedente é jogado nos córregos da Vila, causando poluição e o constante mau cheiro.
Nas outras Vilas da Ilha não existe rede pública e o esgoto é jogado nas fossas, ou in natura nas praias e rios.
O lixo é recolhido diariamente ao longo de todas as ruas da Vila do Abraão, transportado na caçamba de um caminhão e/ou de um trator até o cais. É transferido para um barco e levado para o continente. Chegando em Angra, é despejado no Aterro Sanitário de Ariró, onde é separado.
Em Provetá o procedimento é o mesmo, mas nas outras praias e vilas, somente o lixo reciclável é recolhido. O orgânico é enterrado, jogado na mata ou no mar. Muito lixo ainda é queimado na maioria dos vilarejos.
O entulho gerado por obras na Vila do Abraão é transportado para o antigo lixão, dentro da área do Parque Estadual.
A média diária de retirada de lixo da Vila do Abraão na baixa temporada é de 3 (três) toneladas por dia e na alta é de 12 (doze) toneladas. Estes números não coincidem com os demonstrados na tabela demosntrativa porque não se incluiu os veranistas nem os diaristas.
Impactos Ambientais / Trilhas e Atrativos
Impactos Socioculturais
O impacto mais marcante é a marginalização da população local. As decisões são tomadas sem a consulta ou participação dos moradores tradicionais. Com isto a população local fica despreparada frente a novas atividades.
Falta incentivo para que as atividades típicas da cultura local sejam mantidas, como a pesca artesanal e o roçado.
Como não há capacitação ou orientação novas atividades são postas em prática: aluguel de quintais para camping, aluguel dos barcos para passeio, carretos, construção de suítes para alugar e comércio de mercadorias (camelô). Estas novas atividades são sempre chamadas “ilegais, irregulares, sem profissionalismo e prejudiciais ao turismo”. Os nativos são discriminados por não serem “profissionais”.
A nova atividade econômica, o turismo, trouxe uma mudança de valores com diferente padrão de vida. A falta de entendimento entre os diversos grupos de interesse gera desunião. A desunião leva a uma competição desleal com queda dos preços e da qualidade nos serviços prestados.
O crescimento desordenado causou a destruição do próprio objeto de interesse, a Vila Abraão já deixou de ser um local bucólico.
Relatório de Análise Turística da Ilha Grande
- Ilha Grande: Relatório da Análise Turística
- Ilha Grande: Contexto Socioambiental
- Ilha Grande: Piratas
- Ilha Grande: Inventário Turístico
- llha Grande: Visitação
- Ilha Grande: Perfil do Turista
- Ilha Grande: Impacto da Visitação
- Ilha Grande: Visitação Problemas Identificados por Atores
- Ilha Grande: Proposta para Manejo (e Controle) da Visitação
- Ilha Grande: Conclusões e Recomendações
- Ilha Grande: Proposta de Continuidade da Análise Turística
- Ilha Grande: Fontes de Informação / Referências Bibliográficas
Anexo
Assuntos Correlatos