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Polo Ecoturístico da Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ

Relatório de Análise Turística (julho 2002)


Manejo da Visitação

 

Considerações

Primeiramente, é necessário se considerar que a Ilha Grande está cada vez mais se apresentando como foco de atenções. Ao mesmo tempo em que o turismo vem crescendo de forma desordenada, a sociedade organizada também vem alertando as autoridades sobre os problemas vigentes. Até que o governo federal interviu e concretizou o importante documento que é o TAC. Com isso, não só os órgãos competentes, mas universidades e ONGs vêm demonstrando interesse pela questão.

Neste contexto, o Manejo da Visitação e a Capacidade de Carga Turístico estão entre os assuntos mais discutidos, sendo praticamente unânime a necessidade de ordenamento. Fala-se em controlar a visitação em atrativos, controlar o acesso à Ilha, definir a Capacidade de Carga, cobrança de taxas, etc. As idéias são inúmeras. Mas temos que lidar com a real conjuntura social, política e econômica, da região, do Estado e até mesmo do país. Propostas que exigem muito investimento financeiro, grandes mudanças estruturais nos órgãos fiscalizadores e mudanças drásticas impostas ao cotidiano das pessoas são consideradas um caminho para o fracasso.

Independente de um controle baseado em estudo de Capacidade de Carga Turística, é necessário que se ordene muitos outros aspectos (receptividade local e infraestrutura básica, por exemplo), sem os quais os estudos sobre mecanismos de controle e de capacidade serão esforços em vão.

Da forma como a atividade turística na Ilha Grande vem se implantando, percebemos que as oportunidades levam os empreendedores a investir naquilo que parece apresentar retorno financeiro mais rápido. Isto se verifica pelo grande crescimento de pousadas e barcos na Vila do Abraão. Os problemas mais evidentes decorrentes desta situação são a infra-estrutura básica, que não acompanhou o crescimento, e o impacto ambiental (no objeto de interesse) e cultural (exclusão social e desunião).

Propomos então que medidas gradativas sejam tomadas. As ações devem passar pela Educação Ambiental (para os moradores e para os turistas), pela estruturação dos atrativos mais visitados e pela melhor organização social. Num segundo momento deve-se partir para o ordenamento da visitação de alguns atrativos, enquanto se busca envolver mais atores governamentais, não-governamentais e a iniciativa privada. Antes de qualquer coisa, deve-se promover a mudança de postura dos envolvidos.


O Manejo da Visitação e a Capacidade de Carga Turística

Com a mudança de comportamento do turista e com serviços oferecidos, pode-se determinar a Capacidade de Carga Turística das vilas da Ilha Grande e de cada atrativo. Mas por enquanto, os números são provisórios, pois o cenário está em plena mudança: se melhorar, a capacidade aumenta, se piorar, a capacidade diminui.

A título de reflexão, podemos considerar que o número de leitos na Vila do Abraão deve chegar próximo de 6.000 leitos, considerando as pousadas, campings e casas e suítes para aluguel. Se levarmos em conta a proporção mostrada no inventário, de cerca de 75% de diaristas para 25% de turistas, chegamos a mais de 24.000 visitantes, número compatível ao que é frequentemente mencionado nos principais feriados (Reveillon e Carnaval).

Nitidamente a Capacidade de Carga Turística da Vila do Abraão, com a infraestrutura básica atual, se mostra ultrapassada. Sem falar nos mais de 2.000 moradores e nos veranistas. Como o sistema de esgoto é dimensionado para 7.500 pessoas, fica fácil de se concluir que a simples definição de um número para a Capacidade de Carga desta vila não significa melhoria do ecoturismo.

Acreditamos que limitar a visitação do Abraão a, digamos, 10.000 pessoas nos picos de sazonalidade seria uma ação muito difícil, pra não dizer impossível. E como levar isto a cabo, sabendo-se que devido à própria sazonalidade, mesmo com mais de 20.000 visitantes no verão, presencia-se uma selvagem competição na baixa temporada, com grande queda dos preços?

O ideal seria que o sistema de saneamento atendesse mais de 25.000 pessoas, mas isso é uma condição que está fora da nossa realidade, pelo menos num horizonte de alguns anos. O mesmo pode-se dizer para o abastecimento de água. A situação só não é mais grave devido novamente à sazonalidade, que deixa o sistema sobrecarregado apenas em certas épocas do ano. E aí ressaltamos a atenção ao se estimular a visitação na baixa estação; é preciso que o sistema esteja adequado para receber visitantes durante todo o ano.

Com melhor infraestrutura, e com ordenamento, a capacidade é maximizada. Sem ordenamento, entraremos na espiral decadente de qualidade: muita oferta, pouca demanda, queda de preços, oportunidades para mão-de-obra desqualificada e perda da cultura local, a qual já não gera mais renda. Resumindo, a qualidade de vida local e a qualidade do destino diminuem cada vez mais.

Daí a idéia de reunir esforços para implementação de opções mais palpáveis, como por exemplo o trabalho para mudança de comportamento e o controle da visitação de alguns atrativos.

Propostas

A seguir apresentamos algumas considerações sobre as diretrizes básicas propostas para melhoria do Ecoturismo na Ilha Grande.


Educação Ambiental

Com os moradores, melhora a receptividade e a qualidade ambiental dos produtos. O meio influi no comportamento do turista. Se a Ilha está limpa, dificilmente os visitantes sujam. Deve ser dado enfoque principal aos alunos das escolas, usando os professores como multiplicadores. Apresenta resultados de médio a longo prazos, o que faz com que seja uma medida principal a ser tomada. Alguns professores da Vila do Abraão já demonstram interesse e investem na área, a Brigada Mirim é uma forte aliada e a UERJ pode dispor de meios para implantação de um Programa de Educação Ambiental. Existem algumas iniciativas isoladas que devem ser agrupadas.

Com os turistas, seria um investimento que deve envolver a BARCAS S/A e as principais empresas de ônibus que fazem o transporte para Angra e Mangaratiba. Se no caminho para a Ilha o visitante já vem sendo informado de que o destino turístico Ilha Grande é um lugar incomum, ele certamente demonstrará um comportamento mais adequado, e conseqüentemente os impactos serão reduzidos.

Nesta direção, pode ser elaborado também um Plano de Marketing visando divulgação da Ilha Grande como destino especial e diferenciado, posicionando-o no mesmo patamar que destinos como Fernando de Noronha, Bonito, Brotas, e outros, e não como alternativo ao sul da Bahia ou à Região dos Lagos, no RJ. Sabe-se que o ecoturista é um ávido consumidor de novidades.


Capacitação

Um bom atendimento corresponde à satisfação do cliente, melhor comportamento e provável retorno e/ou boas recomendações. É um ótimo meio de propaganda. Para a implantação dos produtos é imprescindível que a mão-de-obra esteja capacitada, levando à maior qualidade e ao incremento nos preços. Deve-se também atentar para capacitação em atividades indiretamente ligadas ao ecoturismo, assim como valorização de costumes próprios do lugar.

Estruturação dos Atrativos

Os atrativos naturais por si só não significam que a Ilha Grande esteja preparada para receber os visitantes. É necessário se elaborar os produtos turísticos, que por sua vez são formados por um conjunto de fatores como: interpretação, guias capacitados e infraestrutura receptiva.

A melhoria das condições das trilhas diminui o risco de impacto ambiental e facilita o acesso aos atrativos. Algumas trilhas apresentam péssimas condições de uso, merecendo fechamento imediato para redesenho. É o caso do atalho de subida até a “Curva da Morte”, no caminho para Dois Rios, e a porção final da trilha para a Cachoeira da Feiticeira. Essas duas trilhas são muito íngremes, com erosão em sulcos e pouca vegetação.

As praias Preta, Júlia, Crena, Abraãozinho e Lopes Mendes são muito freqüentadas, não só pelos pensionistas, mas também por diaristas. Portanto são atrativos que se forem bem implantados, com placas de sinalização, bons acessos, sem lixo e com segurança, contribuirão substancialmente para o ordenamento da visitação. O mesmo pode ser considerado para o Pico do Papagaio, até porque é um atrativo com um único acesso, representando uma real possibilidade para se efetivar um controle.


Cobrança de Taxas

No caso de se cobrar taxa para entrada na Ilha Grande, algumas dificuldades devem ser ressaltadas. O acesso à Ilha pode ser feito por várias entradas, e existem várias saídas no continente também. Isto implica na necessidade de intensa fiscalização, ou seja, depende fortemente de órgãos públicos (que são conhecidamente ineficazes). Além disso, as vilas da Ilha são espaços públicos, onde fica difícil inclusive legalmente de se realizar esse tipo de controle.

Para se cobrar taxa de acesso aos atrativos deve-se dispor de serviços (banheiros, sinalização, informação, limpeza, etc). Então, por enquanto ainda não se pode falar em cobrança de taxa. Na medida em que os serviços forem implantados, pode-se criar mecanismos para cobrança de taxas, gradativamente, até mesmo porque isto demanda um processo burocrático, inclusive na legislação. A implantação efetiva das Unidades de Conservação facilitaria esse processo, principalmente havendo a criação de um Conselho Gestor ou Consultivo, pois este poderia administrar os recursos gerados.


Recomendações para continuação do Programa MPE / FUNBIO

Diante do cenário atual, sugerimos que as ações sejam tomadas de modo que dependa o mínimo possível do Poder Público, mas que sejam marcantes e visíveis, atraindo interesse de todos. Apresentamos as recomendações que se encaixam nessas observações, em ordem de prioridade:

  • Elaborar e implementar Projeto de Educação Ambiental para professores da rede pública.
  • Oferecer cursos profissionalizantes

    - Ecoturismo como Negócio 
    - Condução de Visitantes para Trilhas e para Passeios de Barco 
    - Idiomas
    - Bares e Restaurantes (garçom, cozinheiro, etc), camareira e copeira 
    - Manejo de Recursos Marinhos (e seu uso como atrativo)
    - Qualidade no atendimento
    - Manejo e Manutenção de Trilhas
    - Elaboração de produto ecoturístico

  • Recuperação, interpretação e sinalização de trilhas e atrativos

Começar pelas mais freqüentadas, e que inevitavelmente são as mais usadas pelos diaristas. Levar em consideração as dificuldades, custos, mão-de-obra, etc. Obrigatoriamente tem que envolver os condutores (o máximo possível), para valorizarem e então ajudarem a conservá-las. Pode ser inserido nos cursos de condução, manejo de trilhas e elaboração de produto.

- Atalho para “Curva da Morte” (para Dois Rios)
- Cachoeira da Feiticeira, principalmente o último trecho
- Circuito Praia Preta - Aqueduto - Poção
- Pico do Papagaio
- Praia dos Mangues - Lopes Mendes
- Circuito Praia da Júlia - Crena - Abraãozinho

  • Pressionar e auxiliar a Prefeitura a corrigir a infraestrutura básica.
  • Demonstrar para a Prefeitura de Angra e para o governo do Estado o potencial econômico da Ilha Grande enquanto área protegida, para exploração através do Ecoturismo, em comparação a outras alternativas de desenvolvimento.
  • Elaborar projeto para disciplinar embarque e desembarque nos cais de Angra, Mangaratiba e Abraão (embarque do lixo, vendedores ambulantes, desembarque de peixe, compras, material de construção, abordagem para carreto, para hospedagem e para revista policial). As primeiras impressões podem determinar a qualidade da viagem.
  • Elaborar Projeto para Sensibilização dos Turistas ao longo dos trajetos de acesso à Ilha Grande (ônibus, rodoviária, barca e saveiros), nos sites e rádio local e na mídia, informando que a Ilha é um lugar especial (UCs) e por isso os turistas devem ter um comportamento adequado. Buscar parcerias entre empresa privada, órgãos governamentais e não-governamentais
  • Elaborar e implantar Projeto de Resgate Cultural com os caiçaras. A Praia da Longa, o Saco do Céu e o Aventureiro apresentam as maiores populações de caiçaras, com alguns costumes ainda preservados, de onde poderia ser aproveitado o conhecimento para promover o resgate nas vilas mais descaracterizadas (promovendo aumento da auto-estima, gerando maior cuidado com a fonte de renda – a Ilha, e trazendo mais opções de renda).

 

 

Relatório de Análise Turística da Ilha Grande

Anexo


Assuntos Correlatos