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Estudos de Caso

Capacidade de Carga Turística (CTT)

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Trilha do Macuco Safari, Parque Nacional do Iguaçu

por AMBIENTAL Consultoria
       Roberto M.F. Mourão, ALBATROZ Planejamento, consultor 

 

Impactos do Uso Público em Áreas Naturais


Considerações Gerais

Estudos sobre a capacidade de carga em Unidades de Conservação no Brasil são raros e recentes (2001).

O Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, foi um dos primeiros a tratar do assunto de maneira mais científica. Ainda assim, o Plano propõe que estudos mais detalhados de capacidade de carga sejam realizados nas áreas propostas para uso recreacional.

Os planejadores e administradores de UCs necessitam dados concretos para predizer as conseqüências do desenvolvimento de atividades de uso público e embora muito tenha sido dito sobre capacidade de carga recreacional, particularmente para as áreas silvestres, são poucos os planos de manejo que têm incorporado tal conceito.  


Quantidade de Uso e Capacidade de Carga ou Suporte Turístico  

Embora o conceito de capacidade de carga já venha sendo aplicado há muitos anos no manejo de pastagens, somente na década de 70 teve seu uso difundido no manejo do uso recreacional das áreas naturais protegidas para fixar limites para a intensidade de uso.

Atualmente a definição de limites de uso incorpora uma série de parâmetros, com ênfase nas condições desejadas para a área, além da já conhecida quantidade de uso que o local pode tolerar.  

Capacidade de carga é um conceito complexo, que incorpora princípios tanto das ciências biológicas como das ciências sociais e exatas. 

Define-se como o tipo de uso que pode ser suportado através do tempo em um determinado espaço turístico sem que ocorram danos excessivos ao ambiente físico e à qualidade da experiência recreacional.

macuco observacao tartarugas ostional beach costa ricaA praia Ostional, na Costa Rica, na 'arribada' das tartarugas que vêm desovar, uma multidão invade a praia, causando stress nos animais, que a longo prazo pode comprometer o local de desova (foto à esquerda).

A primeira definição relaciona-se com a estabilidade dinâmica e a diversidade do ecossistema natural e é denominada capacidade de carga física.

Um outro aspecto está relacionado com a quantidade de pessoas que uma área pode conter sem destruir a experiência ao ar livre, ou seja, a capacidade de carga social.  

Além da capacidade de carga estar relacionada com a capacidade do recurso (capacidade física) e ao usuário (capacidade social), existe também a capacidade de carga biológica ou ecológica, ou seja, a habilidade do recurso em suportar o uso recreacional sem causar mudanças inaceitáveis aos componentes ecológicos (vegetação, solo, água, fauna etc.).

Tanto a capacidade física como a ecológica estão relacionadas aos recursos, porém, enquanto a primeira concentra-se em números de usuários, a segunda baseia-se mais nas condições fundamentais desejadas dos recursos naturais.

CCT TJ tipos cct

Através do monitoramento dessas condições pode-se tomar ações corretivas quando necessárias, podendo envolver ou não reduções no uso recreacional.   O enfoque principal em defesa deste ponto de vista está no fato de que a busca por números pode, na verdade, desviar as discussões da questão crítica do manejo das áreas naturais. Ou seja, decidir o que é aceitável ou não, sem perder de vista os objetivos de manejo da área e definir padrões que descrevam claramente quais são essas condições.  

macuco trilha placaO relacionamento dos níveis de uso recreacional aos vários componentes do ecossistema das áreas silvestres não está ainda bem entendido. Um exemplo são os efeitos na vegetação, que mesmo sendo os mais estudados, não possibilitam que se faça uma predição rápida devido às inúmeras variáveis que influenciam os danos em relação ao número de visitantes.  

A forma de manejo e a existência de uma política mais apropriada de uso turístico das áreas silvestres nos países desenvolvidos envolvem quase sempre um corpo técnico preparado para o recebimento do público, além de uma dotação orçamentária adequada às demandas que o manejo das áreas requer. A mesma situação não ocorre nos países em desenvolvimento, havendo assim uma série de restrições que influenciam a capacidade de carga de uma área natural.  

Miguel Cifuentes apresenta um procedimento que reconhece a carência de pessoal capacitado, a falta de capacidade de manejo, a insuficiência de informações e a dificuldade para que as áreas protegidas dos países em desenvolvimento possam, a curto prazo, contar com sistemas e equipamentos de tecnologia avançada. Na verdade, tal componente, acrescentado por Cifuentes, dá mais uma variável da capacidade de carga, a Capacidade de Carga Institucional.  

Um segundo sistema, conhecido como Limites Aceitáveis de Câmbio (LAC) ou "Limits of Acceptable Changes" foi desenvolvido em resposta à necessidade dos administradores em lidar com a demanda crescente por áreas recreacionais. No sistema, a ênfase primária é dada às condições desejadas em uma área e não à quantidade de uso que ela pode tolerar.  

Em suma, o processo LAC requer a decisão de que tipo de condições silvestres são aceitáveis e em seguida prescreve ações para proteger ou alcançar aquelas condições.

O processo consiste de quatro componentes principais:

  1. especificação de recursos e condições sociais aceitáveis e alcançáveis, definidos por uma série de parâmetros mensuráveis

  2. análise do relacionamento entre as condições existentes e aquelas julgadas aceitáveis

  3. identificação de ações de manejo necessárias para alcançar essas condições

  4. programa de monitoramento e avaliação da efetividade do manejo.  

Um terceiro sistema encontra-se na literatura, também proposto por Cifuentes (em 1992), tendo sido aplicado pela primeira vez no Parque Nacional de Galápagos, Equador, em 1984. Mais tarde o método também foi aplicado em quatro UC na Costa Rica.  

Esse terceiro sistema proposto por Miguel Cifuentes tem 6 passos:

  1. análise das políticas sobre turismo e manejo das áreas protegidas

  2. análise dos objetivos da área protegida

  3. análise da situação dos sítios que têm visitação

  4. definição, fortalecimento ou mudança de políticas e decisões com respeito à categoria de manejo e zoneamento

  5. identificação de fatores que influem em cada sítio de uso público

  6. determinação da capacidade de carga para cada local de uso público:

-  Capacidade de Carga Física [CCF]

-  Capacidade de Carga Real [CCR]

-  Capacidade de Carga Efetiva [CCE].  


CC TJ CC Cifuentes diagrama ccf ccr ccrA Capacidade de Carga Física (CCF) é o espaço disponível e o espaço normal por visitante. Por exemplo, cada pessoa precisa de pelo menos 1m2 de espaço para ter o mínimo de conforto.

A Capacidade de Carga Real (CCR) é a capacidade de carga física submetida a uma série de fatores de correção; declividade acentuada é um exemplo de fator limitante para o desenvolvimento de uma série de atividades.

A Capacidade de Carga Efetiva (CCE) é o limite aceitável de uso e é sempre menor e no mínimo igual à CCR.


A aplicação desse método vem sendo estudada no Brasil no Parque Estadual da Ilha Anchieta (2001).  

De forma geral, o uso do conceito de capacidade de carga pode ainda ser utilizado como uma das ferramentas disponíveis para controlar os impactos do uso público sobre os recursos naturais. Deve, no entanto, incorporar definições mais recentes como a fornecida pelo National Park Service, onde capacidade de carga é entendida como:


Efeitos do Uso sobre a Vegetação  

macuco trilha raizes expostasAs consequências do uso recreacional na vegetação têm sido estudadas com mais frequência do que na água, fauna e até mesmo no solo.

Embora as avaliações considerem uma série de parâmetros que podem auxiliar nas conclusões obtidas nos levantamentos, fica extremamente difícil obter resultados consistentes sobre o relacionamento entre o número de visitantes e o grau de impacto em uma área natural.

Na foto ao lado, vemos a enorme quantidade de raizes expostas ao longo da trilha. (Trilha de acesso ao Poço do Inglês, Paraty © Roberto M.F. Mourão, 2015)

Uma forma de avaliar as variáveis no estudo dos efeitos do pisoteio em trilhas e áreas de camping é através de experimentos controlados.

macuco trilha pinguela improvisadaOcorre que, quando a manitenção de trilhas não são realizadas adequada e regularmente pelos responsáveis pelo manejo da visitação, usuarios e guias improvisam travessias, em geral comprometendo a segurança. (Trilha de acesso ao Poço do Inglês, Paraty © Roberto M.F. Mourão, 2015)

As maiores diferenças incluem:

  1. quantidade de pisoteio

  2. características das pessoas em relação ao tipo de sapato e peso

  3. método de pisoteio

  4. métodos de amostragem

  5. sincronização do pisoteamento

  6. bases de comparação.  

  


Efeitos do Uso sobre o Solo  

macuco trilha erosao fernando noronhaA dinâmica do solo como suporte de comunidades de plantas é afetada não somente pelas suas propriedades sólida, líquida e gasosa, mas também pela temperatura, pressão e radiação solar.

Isso faz com que o efeito dos visitantes no solo seja uma consideração importante em todo programa de manejo de áreas silvestres. As pesquisas dos autores mostraram que 4 fatores parecem ser predominantes na influência do uso recreacional:

  • A Traficabilidade é definida como a capacidade do solo em suportar um peso em movimento.

  • A Profundidade do material de solo está altamente relacionada à quantidade de umidade e nutrientes disponíveis para o crescimento das plantas.

  • A Drenagem, característica do solo de reter água, é um fator extremamente importante na determinação do impacto potencial em trilhas e áreas de camping. A composição das espécies vegetais em áreas de pouca drenagem geralmente apresentam um impacto maior e mais longo.\\

  • A Erodibilidade é a resistência do solo ao deslocamento pela ação do vento ou água. 

Na foto acima, à direita, podemos notar o resultado de enxurradas em uma trilha, em aclive/declive, sem a devida proteção contra erosão. (Fernando de Noronha © Roberto M.F. Mourão, 2006.)

 

Efeitos do Uso Público sobre a Fauna e a Pesquisa  

macuco nao alimente quatisPodemos dizer que as atividades de uso público desenvolvidas no PNI têm efeitos diretos e indiretos sobre a fauna local. Os diretos são aqueles onde o visitante tem interferência voluntária no comportamento animal, como ocorre quando alimenta ou afugenta o quati na Zona de Uso Intensivo.

macuco quati lata lixo cercaComo impactos indiretos temos ações como barulho e movimentação de grandes grupos nas áreas de menor visitação, como na trilha das Bananeiras e na trilha do Macuco, com efeitos aparentemente menores.

Em ambos os casos, o visitante demonstra não ter conhecimento real dos efeitos de seu comportamento. Levado pela emoção de ver um animal em seu ambiente natural, interessa-se em olhar mais de perto, tocar e até mesmo alimentar o animal.

Muitas vezes tem atitudes que visam manter o animal próximo pelo tempo necessário para levar de lembrança uma fotografia.  

a. Efeitos sobre os Mamíferos  

Considerando os dados do Projeto Carnívoros, a captura de animais nas áreas de intenso uso, como a Área de Desenvolvimento (AD) das Cataratas e a AD Macuco, foi menor do que nas áreas onde ocorre mínima ou nenhuma visitação pública, como é o caso do Poço Preto. Principalmente na AD Cataratas não são mais vistos mamíferos, com exceção do quati e do gambá. 

Os efeitos da oferta de alimentação humana sobre o comportamento e biologia do quati estão sendo estudados pelos pesquisadores já citados.

O objetivo do trabalho é apresentar dados confiáveis sobre o real impacto da visitação no comportamento do quati. Estão sendo feitas análises sobre:

  1. ecologia básica (tamanho e comportamento dos grupos)

  2. parâmetros reprodutivos, bioquímicos e hematológicos

  3. tipo de alimento (através da observação de alimentação e fezes).

O trabalho envolve também a comparação com os dados obtidos no Parque Nacional del Iguazú pelos pesquisadores do Centro de Investigaciones Ecologicas Subtropicales (CIES).

Algumas observações preliminares referem-se ao comportamento do quati na busca por alimentos. Segundo os dois pesquisadores, apesar de terem sido acrescentados alimentos humanos na dieta do quati, eles passam a maior parte do dia alimentando-se normalmente. As opiniões diferentes obtidas até o momento sobre a dependência destes animais em relação à alimentação fornecida pelos visitantes não foram baseadas em levantamentos sistemáticos.

As informações sobre a fauna são indispensáveis para o estabelecimento do programa de monitoramento dos impactos biofísicos e sociais nos locais de visitação do Parque. Dentre os parâmetros aqui indicados, deverão ser incluídos indicadores recomendados pelos pesquisadores, que sejam facilmente observáveis e mensuráveis em campo e que possam ser obtidos por funcionários mediante treinamento.

Os quatis no Parque sempre foram um problema pois, acostumados ao público, chegam a abrir sacolas e a tirar alimento da mão de crianças. Intensa campanha foi feita para evitar o impacto nos animais. Em 2015 os quatis atacaram 260 turistas nas cataratas.


b. Efeitos sobre as Aves  

macuco birdwatching tripoidsAs aves aparentemente acostumam-se com maior facilidade ao barulho provocado pelos grupos de visitantes e sobrevôo dos helicópteros.

Em consulta ao ornitólogo Luiz dos Anjos, especialista em bioacústica, da Universidade Estadual de Londrina, Paraná, os efeitos do uso de play-back pelos grupos de observadores de aves, nas trilhas do Poço Preto e das Bananeiras, sobre a avifauna local, são muito pequenos para serem considerados como um impedimento para que essas atividades continuem ocorrendo.

No entanto, consideramos que estudos locais devam ser desenvolvidos para identificar o efeito real dessas atividades sobre a avifauna.  

c. Efeitos sobre as Pesquisas  

A maioria das pesquisas no Parque é desenvolvida na região da trilha do Poço Preto, em parte devido à facilidade de acesso proporcionada pela estrada e pela infraestrutura existente.

macuco carnivoros logoExiste uma diferença entre os impactos causados diretamente pelos visitantes (geralmente menores) e aqueles oriundos das estruturas envolvidas para manter o uso público no Parque.

Como exemplo pode-se citar os estacionamentos, o heliporto, o hotel e o grande movimento nas estradas.  

Atualmente a área vem sendo utilizada para fiscalização, pesquisa e visitas de grupos de observadores de aves acompanhados por uma bióloga do Macuco Safari. O número de grupos a utilizar o local tem sido pequeno, com cerca de um grupo por mês, variando em torno de vinte pessoas por grupo.

macuco carnivoros pesquisadoresO fato de grupos especializados utilizarem o local para observação de aves não tem, à princípio, interferido nas pesquisas desenvolvidas no local. No entanto, a logística envolvida no atendimento a esses grupos tem causado interferências diretas nas pesquisas, uma vez que os pneus apagam os rastros dos animais e amassam as fezes, prejudicando a sua coleta e o seu estudo.  

Caso as visitas sejam intensificadas, poderão ser perdidos alguns anos de pesquisa, já que os padrões atuais de uso para a análise de dados serão modificados. Além disso, o uso intensivo da trilha das Bananeiras e da trilha da Represa poderá modificar a área de vida das onças, fazendo com que se desloquem ainda mais para os limites do Parque. Uma das conseqüências poderá ser o aumento do ataque das onças aos animais domésticos nas propriedades limítrofes ao Parque.

 

 

 

Capacidade de Carga Turística da Trilha Macuco Safari, Parque Nacional do Iguaçu 

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Informações da Viagem / Long Haul Expeditions 1985 (pdf para download) 

 
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