CATEGORIA CASOS

 

logo estudos de caso Logo MPE Funbio

 

Polo Ecoturístico da Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ

Relatório de Análise Turística (julho 2002)

Impacto da Visitação

 

Infraestrutura Básica

Água

O Córrego do Abraão possui uma barragem que armazena 45 m³ lits de água, que abastecia o antigo Lazareto, e que hoje abastece parte da Vila do Abraão.

O Córrego do Bicão é utilizado para abastecimento de grande parte da Vila do Abraão, mas não possui sistema adequado, tampouco reservatórios ou barragens. Algumas caixas de passagem e os reservatórios que abastecem a Vila são utilizados há 30 anos - reservatórios e caixas somam uma capacidade de 95 m³.

O tratamento da água é feito de forma rudimentar (com cloro) e não existem filtros. Quando chove muito, a comunidade recebe água barrenta, causando inclusive o entupimento das mangueiras e canos, chegando a ponto de eventualmente haver queima de chuveiros elétricos. Em épocas de estiagem e alto consumo, algumas residências, pousadas e campings ficam sem água. Felizmente as maiores estiagens ocorrem quando há menor consumo (baixa temporada, inverno). Isto indica o cuidado que se deve ter ao fomentar um aumento no fluxo turístico entre os meses de maio a outubro, pois se o sistema de coleta e distribuição de água não estiver adequado, há chance de o abastecimento ser insuficiente.

mpe ilha grande visitacao pluviometria

Nas outras vilas o abastecimento de água é feito a partir de pequenos reservatórios que recebem água de pequenos córregos. A distribuição é simples, sendo que muitas casas e pousadas captam água por conta própria. Para se diagnosticar melhor a situação nestas vilas sugere-se que um levantamento mais detalhado seja feito.

Saneamento - Vila do Abraão

Usando como ocupação média máxima a taxa de 88%, correspondente ao mês com maior visitação (janeiro) e aplicando o percentual sobre o total de leitos (considerando somente as pousadas e campings), sabendo o número aproximado de moradores (IBGE, 2000) e o consumo (e esgoto gerado) per capita de água (150 litros) e de lixo produzido (0,9 kg), temos a seguinte evolução da visitação, na Vila do Abraão, e uso dos recursos básicos como mostra a tabela abaixo.

mpe ilha grande lixo agua abraao 1995 2002

Com previsão de crescimento de 13% ao ano no número de pousadas, e aplicando este percentual ao número de leitos podemos verificar como ficarão as condições da infraestrutura básica da Vila do Abraão. Com esta estimativa pode-se prever a necessidade de readaptar a rede de infraestrutura básica: água, esgoto e lixo, confome mostra a tabela.

mpe ilha grande previsao crescimento lixo esgoto 2002 2010

Com a previsão de crescimento e sabendo que a capacidade de processamento do esgoto é de 1 milhão de litros por dia, podemos concluir que cada vez mais o sistema deixará de processar o total do esgoto gerado. Atualmente (2002) podemos notar que a competência do tratamento está praticamente no limite, se o sistema funcionar em plena carga.

Soma-se a isto o fato de não estarmos considerando dois tipos de visitantes, o veranista e o diarista, que como mostramos na tabela, pode chegar a 75% dos visitantes. Não contabilizamos os leitos de casas e suítes.

Usamos ainda alguns números que provavelmente irão mudar ao longo dos anos, como: taxa de ocupação de 88% e número de moradores. Isto sem mencionar que o sistema não vem atendendo satisfatoriamente a Vila, além da população local, em geral, não estar utilizando corretamente a rede, pois esta é sobrecarregada com águas pluviais, dejetos inorgânicos, etc.

Segundo o engenheiro ambiental contratado para elaborar o diagnóstico e propor ações para melhoria da qualidade do serviço, mais de 90% das residências da Vila do Abraão são atendidas pela rede pública. Com isso, teoricamente, diminuiria a possibilidade de ocorrência de doenças e melhoraria a qualidade de vida dos moradores. Contudo, vários problemas são nitidamente observados.

Quando a rede foi refeita solicitou-se que os moradores deixassem de usar as fossas sépticas e ligassem os canos diretamente na rede. É preciso dizer que existiam fossas mal construídas, que não ajudavam a limpeza do esgoto e eram prejudiciais à saúde do morador, e fossas muito bem feitas que filtravam o esgoto antes de jogar na rede.

Problemas identificados na rede pública

  • A maioria dos campings não possui fossas e inexiste caixa de gordura nos outros estabelecimentos comerciais
  • A rede pluvial é ligada na rede pública sobrecarregando o sistema
  • A água das piscinas de algumas pousadas é jogada na rede de esgoto
  • Com as chuvas, o sistema fica deficitário necessitando manobras para evitar o transbordamento do R.A.F.A. (Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente), nem sempre bem sucedidas.

Segundo técnicos consultados, o sistema de coleta e tratamento do esgoto, com esta demanda, é suficiente para a Vila do Abraão. O problema é a quantidade de água que é jogada na rede, sobrecarregando o sistema. Quando ocorre uma sobrecarga, o excedente é jogado nos córregos da Vila, causando poluição e o constante mau cheiro.

Nas outras Vilas da Ilha não existe rede pública e o esgoto é jogado nas fossas, ou in natura nas praias e rios.

O lixo é recolhido diariamente ao longo de todas as ruas da Vila do Abraão, transportado na caçamba de um caminhão e/ou de um trator até o cais. É transferido para um barco e levado para o continente. Chegando em Angra, é despejado no Aterro Sanitário de Ariró, onde é separado.

Em Provetá o procedimento é o mesmo, mas nas outras praias e vilas, somente o lixo reciclável é recolhido. O orgânico é enterrado, jogado na mata ou no mar. Muito lixo ainda é queimado na maioria dos vilarejos.

O entulho gerado por obras na Vila do Abraão é transportado para o antigo lixão, dentro da área do Parque Estadual.

A média diária de retirada de lixo da Vila do Abraão na baixa temporada é de 3 (três) toneladas por dia e na alta é de 12 (doze) toneladas. Estes números não coincidem com os demonstrados na tabela demosntrativa porque não se incluiu os veranistas nem os diaristas.


Impactos Ambientais / Trilhas e Atrativos

mpe ilha grande visitacao impactos trilhas principais

mpe ilha grande visitacao impactos atrativos principais

 

Impactos Socioculturais

O impacto mais marcante é a marginalização da população local. As decisões são tomadas sem a consulta ou participação dos moradores tradicionais. Com isto a população local fica despreparada frente a novas atividades.

Falta incentivo para que as atividades típicas da cultura local sejam mantidas, como a pesca artesanal e o roçado.

Como não há capacitação ou orientação novas atividades são postas em prática: aluguel de quintais para camping, aluguel dos barcos para passeio, carretos, construção de suítes para alugar e comércio de mercadorias (camelô). Estas novas atividades são sempre chamadas “ilegais, irregulares, sem profissionalismo e prejudiciais ao turismo”. Os nativos são discriminados por não serem “profissionais”.

A nova atividade econômica, o turismo, trouxe uma mudança de valores com diferente padrão de vida. A falta de entendimento entre os diversos grupos de interesse gera desunião. A desunião leva a uma competição desleal com queda dos preços e da qualidade nos serviços prestados.

O crescimento desordenado causou a destruição do próprio objeto de interesse, a Vila Abraão já deixou de ser um local bucólico.

 

 

 

Relatório de Análise Turística da Ilha Grande

Anexo


Assuntos Correlatos

 

 

logo fundraising


Captação de Recursos

Fonte: Manual Turismo de Aventura - Busca e Salvamento
Autor: Roberto M.F. Mourão, EcoBrasil

 

"Captação de Recursos é o processo de solicitação de apoio financeiro (geralmente como doações) por uma causa não comercial." (Process of soliciting financial support - usually as grants, for a non-commercial cause.) Business Dictionary
          


Estudos de Caso (2006)

 

TAMAR tartaruga verde ZairaMatheusTartaruga Verde (Chelonia mydas) © Zaira Matheus, Tamar



A Experiência do Projeto TAMAR

As tartarugas marinhas estão desaparecendo. A partir de denúncias, inclusive internacionais, o Ibama criou em 1980 o Projeto Tamar, com a finalidade de preservar as espécies de tartarugas que desovam no litoral brasileiro e que corriam o risco iminente de extinção. Para se ter uma idéia da importância deste projeto, das oito espécies que habitam os mares do planeta, cinco freqüentam o litoral brasileiro na época da desova.

logo tamar 35 anosSeus principais predadores eram os pescadores que viviam próximos às áreas de nidificação, que costumavam matar animais para comer, além de vender os cascos e colher os ovos.

O trabalho concentrou-se na conscientização das populações praieiras sobre a importância da preservação destes répteis, buscando alternativas econômicas para sua sobrevivência. Esta estratégia, criada a partir de um trabalho inicial de dois anos de pesquisa em todo o litoral, ainda é a principal meta do projeto. Foram abordados, portanto, dois aspectos importantes, sob a ótica social: o cultural, já que as tartarugas e seus ovos faziam parte do cardápio e garantiam a alimentação dessas populações durante um determinado período do ano; e o econômico, possibilitando reverter este processo, transformando os antigos predadores em defensores e preservadores das tartarugas.

A forma encontrada foi a contratação, pelo Tamar, destes pescadores, que passaram a patrulhar as praias em busca de ninhos. Quando estão posicionados em locais que oferecem riscos aos filhotes, os ninhos são transferidos para trechos mais protegidos ou para os "cercados de incubação", situados nas bases do Tamar. Quando os ovos eclodem, os filhotes são levados de volta às praias durante a noite para que alcancem o mar. Esse trabalho é orientado e monitorado por profissionais da área biológica, que prestam assessoria permanente.

Criar condições de trabalho para essas populações, manter as sedes, o quadro de profissionais, estagiários da área científica e insumos representa uma pesada folha de pagamentos para um projeto que possui hoje 22 postos, de São Paulo até o Ceará. Sem a participação de patrocinadores e de um brilhante trabalho de obtenção de recursos próprios, isto não seria possível.

Hoje (2206), o Tamar movimenta um volume de recursos na ordem de US$ 1,6 milhão anuais e o maior volume de recursos em 1995 foi obtido através da venda de produtos.

Recursos próprios

O Tamar, como todos os projetos conservacionistas, sofre as conseqüências da recessão econômica mundial, obrigando-se a estabelecer prioridades para obtenção de recursos. Sempre atuou com doações de empresas estatais ou privadas, mas o tempo mostrou que a auto-sustentação é necessária, para deixar a instituição mais enxuta e ágil para continuar cumprindo seus objetivos.

Atualmente, a maior preocupação reside em ampliar ainda mais suas fontes de recursos próprios. Por vários motivos, o Tamar cresceu muito e o volume de gastos para sua manutenção não permite grandes flutuações no recebimento de verbas. Quanto mais o projeto depender apenas de seu próprio esforço, mais estabilidade terá. com a venda de produtos e prestação de serviços, sempre há soluções criativas para enfrentar as oscilações do mercado. A decisão de aumentar as fontes de recursos independentes resultou da constatação de que não havia condição de manter um planejamento executivo estável sem assegurar previamente um orçamento estável.

Normalmente, os contratos de patrocínio são anuais, o que implica alto risco. A descontinuidade administrativa dos órgãos governamentais deixa o Projeto à mercê de decisões orçamentárias e de decretos inesperados. A experiência do Tamar mostrou que é possível prever uma certa pontualidade nas remessas, mas não quando ou como o recurso será recebido. Dos patrocinadores de peso, os recursos dependem da quantidade e da qualidade do retorno que obtiverem com a veiculação e divulgação de suas marcas anexadas ao Projeto. Esses recursos também podem sofrer a influência de outros fatores, como desgastes provocados pela mídia (ver "Imprensa", mais adiante), queda no orçamento, problemas de volume de divulgação com outros patrocinadores ou, simplesmente, porque a empresa já utilizou demasiadamente o nome do Projeto e resolveu mudar.

O Tamar, por abranger regiões geograficamente distintas, procura adaptar-se às características próprias de cada local, aproveitando aqueles que têm maior visitarão pública para explorar os programas especiais de adoção de tartarugas (ver "Adote uma Tartaruga"), venda de produtos como camisetas, brindes, bijuterias, etc., sempre relacionados e identificados com a marca Tamar. É importante lembrar que grande parte do material vendido é fabricada pela própria comunidade envolvida no projeto. Isto permite a circulação de dinheiro dentro da comunidade, evitando o deslocamento de recursos para outras áreas.

TAMAR praiadoforteSede e Base do Projeto Tamar na Praia do Forte, Bahia © Tamar

Sedes do Projeto Tamar


Na sede na Praia do Forte, Bahia, a função da base é mais institucional, de representação. Além do trabalho de preservação, lá são desenvolvidas atividades ligadas ao turismo, sua principal indústria. O objetivo é preparar a comunidade para trabalhar na área de atendimento ao turista, de modo adequado às necessidades do projeto. Para isso, foram construídos viveiros, tanques com exemplares de tartarugas, quiosques para a venda dos produtos me uma cantina. Recentemente, foram incluídos no projeto cursos de guias mirins para as crianças da comunidade, que acompanharão os turistas, fornecendo importantes noções de educação ambiental durante as visitas.

Com relação ao turismo, a principal fonte de recursos está no próprio pátio do projeto. Somente a cantina, por exemplo, em 30 dias, rende um volume de recursos maior que a doação anual de uma das mais significativas entidades internacionais. Naturalmente isto representa trabalho extra exigindo que os administradores passem a se preocupar com a quantidade de bebidas que há no freezer ou se há sanduíches suficientes que não pode interferir nos objetivos fundamentais do projeto, mas precisa ser feito, pela importância que tem como meio de captação de recursos.

O principal pólo produtor do projeto fica no Espírito Santo. O trabalho começou com a necessidade de confeccionar camisetas promocionais e de divulgação, que eram distribuídas aos pescadores e à comunidade local. Inicialmente, as camisetas eram feitas numa oficina de "fundo de quintal", depois transformada em cooperativa e atualmente administrada pela Fundação Pró-Tamar (ver adiante).

Lá, são produzidos camisetas, bonés, calcinhas, cangas, sungas, todos com a marca Tamar. Os resíduos são doados para pessoas que produzem estopas, tapetes de retalhos, tartaruguinhas de pano. Ao longo do ano, são realizados cursos de matelacê, macramé, pintura em tecido, etc. Mesmo contando com fornecedores externos, o Tamar dá preferência para o material produzido pelas comunidades envolvidas no projeto, nos diversos estados.

Hoje, no setor de produção, na área de preservação, fiscalização e demarcação de áreas, trabalham 60% dos membros dessas comunidades. Isto fez com que o choque produzido inicialmente pela proibição da caça à tartaruga fosse plenamente compensado, convertendo-se em benefícios financeiros para o projeto e para a comunidade. Atualmente, além de projetos de caráter social, está sendo reformada uma pousada, onde os moradores do local irão trabalhar; a parte administrativa e jurídica ficará a cargo da Fundação.

Esses são apenas dois exemplos do projeto, que se expande a cada dia, multiplicando sua área de atuação, tanto sob o ponto de vista da produção ou de serviços direcionados, quanto da arrecadação de recursos destinados à área de atendimento social das comunidades, investindo, por exemplo, na criação de creches e barcos-escola, para o ensino de pesca em alto mar.


TAMAR solturadetartaruguinhasArembepeTécnica solta tartaruguinhas em praia de Arembepe, Bahia © Tamar


Adote uma Tartaruga Marinha

Um dos braços de captação de recursos é o programa "Adote uma Tartaruga Marinha", criado por dirigentes do projeto. Inicialmente direcionado para os turistas estrangeiros que visitavam a Praia do Forte e deixavam lá seus endereços para correspondência, sofreu algumas modificações ao longo do tempo. A partir da sugestão de uma consultora italiana, ligada a uma organização internacional, a idéia evoluiu e hoje o programa procura atingir qualquer turista, brasileiro ou estrangeiro, no momento em que ele visita a Praia do Forte. Uma das empresas privadas que apóia o projeto patrocinou a produção de todo o material da campanha, como o Certificado de Adoção e peças complementares: folhetos, fichas, anúncios, etc., criados por sua agência interna.

Quem adota uma tartaruga, ao custo de R$ 50,00, tem direito a lhe dar um nome e recebe o certificado, uma camiseta ou uma visita noturna à praia, onde poderá acompanhar os biólogos em sua rotina de trabalho e até, se tiver sorte, poderá ver um tartaruga desovando ou centenas de filhotes rumando para o mar. E ainda concorre a uma viagem de avião, de qualquer lugar onde a Varig opera, à Praia do Forte, com direito a um acompanhante e hospedagem de luxo durante uma semana.

Apenas um anúncio deste patrocinador em uma revista nacional de grande circulação possibilitou cerca de mil adoções por correspondência.

 

TAMAR couro tecnicoacompanhadesovaTécnico acompanha desova de tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) © Tamar



Os Patrocinadores

O apelo do Tamar é a preservação das espécies de tartarugas que desovam no litoral brasileiro e estão ameaçadas de extinção. A tartaruga é um réptil que pesa de 100 a 300 quilos e põe entre 100 e 500 ovos em duas, três ou mais posturas. Ao desovar, deixa um rastro na praia, ao longo do qual nasce um grande número de tartaruguinhas, que dão um espetáculo a caminho do mar. Isto tem um valor visual e carismático muito grande, que facilita na relação com o público e, conseqüentemente, com o interesse dos patrocinadores potenciais.

O Tamar conseguiu se aproximar das empresas que atuam nas áreas próximas ao projeto, o que facilitou e viabilizou o investimento, além das empresas de grande porte que atuam em nível nacional, interessadas em qualquer projeto, independente de sua localização, desde que relacionado de algum modo com sua área de atuação.

logo TAMAR ICMBioAs fontes de recursos podem ser divididas, simplificadamente, em quatro grupos: o Ibama; as empresas de grande porte, estatais ou não; as empresas privadas de médio e pequeno porte; recursos independentes.

O Ibama, enquanto órgão governamental criador do projeto, fornece parte da mão de obra e dos recursos financeiros que o viabiliza, além de dar o suporte legal às ações. Por se tratar, portanto, de um projeto governamental, a marca do Ibama deve estar presente em todas as publicações e produtos Tamar, visto que faz parte de sua logomarca.

As empresas de grande porte, tanto as estatais quanto as privadas, sempre apresentam uma dificuldade proporcional ao seu porte para gerenciar sua imagem junto ao projeto. Isto porque sua massa burocrática é lenta e/ou não está empenhada em marcar seu nome junto às campanhas ou programas desenvolvidos. Uma idéia apresentada pode levar meses para ser aprovada, dependendo de reuniões, disponibilidades deste ou daquele funcionário, férias e outros imprevistos. Em alguns casos, o período propício para a participação termina e nada ou pouca coisa acontece. Muitas vezes, um patrocinador menor, com maior visão de mercado, encampa a idéia e, embora não participe com uma verba significativa, dá todos os subsídios para que haja retorno financeiro. A partir, por exemplo, da venda de produtos, acaba se destacando na mídia e criando "ciúmes" nos patrocinadores de maior porte, que atribuem ao Tamar a responsabilidade de divulgá-los, obrigação que, na realidade, é de cada empresa.

As empresas de médio e pequeno porte, portanto, podem ser mais acessíveis, ágeis e espertas. Estão ligadas ao projeto com a intenção principal de melhorar sua imagem diante da opinião pública, aproveitar a veiculação gratuita de sua marca nas matérias jornalísticas e identificar seus produtos com a natureza. Nem sempre o volume de recursos repassados por essas empresas como patrocínio é alto (todo o patrocínio, de qualquer valor, é sempre bem-vindo), mas o fornecimento de meios para que o próprio projeto venha a obter esses recursos é importante e viabiliza a execução de programas (p.ex. "Adote uma Tartaruga") que trazem retornos indiretos. Saber aproveitar um determinado momento, sugerir idéias, criar soluções, fornecer material impresso, veicular o projeto em seus anúncios, são formas inteligentes de agir.

O maior retorno dos patrocinadores é a divulgação do nome da empresa associado ao projeto, o chamado "marketing ecológico". O grande problema é saber pesar os volumes dessa divulgação. A relação com os patrocinadores é, em geral, complicada e instável. Assegurar que todos os patrocinadores se mantenham satisfeitos - ou, pelo menos, não insatisfeitos - é uma tarefa ingrata. É muito difícil agradar todos os patrocinadores, todo o tempo. Na realidade, cabe ao patrocinador promover sua própria divulgação, e isto deve ser coordenado pela ONG, para que não haja um desequilíbrio de valores.

No caso do Tamar, alguns patrocinadores de pequeno porte às vezes criam problemas ao aparecerem na imprensa com o mesmo peso de um grande patrocinador. É preciso saber dimensionar o espaço de divulgação de cada um dos patrocinadores, para que não haja injustiças e privilégios.

Já houve casos inversos, de grandes patrocinadores que participaram com somas consideráveis e que, por motivos próprios, não desejavam aparecer, assumindo um low profile, isto é, sem propaganda ou divulgação de seus nomes. Com o tempo e o crescimento do projeto, que se tornou conhecido internacionalmente, um desses patrocinadores, sentindo-se prejudicado e sofrendo pressões internas, foi pouco a pouco diminuindo sua participação. Na realidade, o patrocinador não foi muito zeloso com sua imagem e com a divulgação de sua marca, mas foi o projeto quem sofreu as conseqüências.

 

TAMAR centrovisitantes balnearioguriri saomatheus esCentro de visitantes e educação ambiental no Balneário de Guriri, ES © Tamar

 

A Fundação Pró-Tamar

A Fundação Pró-Tamar foi criada em 1988, quando já existiam as ferramentas, o apelo e um programa a ser executado. Hoje, mais de 60% dos recursos do Tamar são gerados e administrados pela Fundação. A equipe inicial era formada por pessoas que estavam envolvidas com o programa e todos tinham a energia e o feeling necessários para melhorar a dinâmica: os recursos para ampliar o trabalho de campo e as metas para a orientação do pescador.

Com todos os problemas de ordem legal e administrativa que as entidade ambientalistas habitualmente enfrentam, o Tamar chegou à conclusão que a criação de uma Fundação, dadas as suas características, poderia resolver - e resolveu - vários problemas, como as questões trabalhistas, pois muitos pescadores e membros da comunidade que trabalham para o projeto tornaram-se funcionários da fundação. Além disso, a fundação pode ordenar a geração de recursos, organizando a captação junto a empresas privadas e doadores individuais, viabilizando a produção e a venda de camisetas, brindes, bijuterias, brinquedos, etc.; e implementando equipamentos e atividades para dar suporte às populações praianas carentes, como creches, barcos-escola e outros.

A Fundação Pró-Tamar tem uma estrutura enxuta, com diretoria, conselho de curadores, conselho fiscal e cargos administrativos. A administração está distribuída em cinco bases regionais, que recebem as informações da base nacional e as distribuem aos demais pontos bases. A assessoria jurídica e contábil nacional é centralizada e, em nível regional, os contadores acompanham o padrão geral da fundação. Um plano de contas, desenvolvido anualmente, orienta toda a atividade, modificando-se e adaptando-se ao dinâmico perfil da entidade. Anualmente, a Fundação apresenta a todas as fontes de recursos um balanço do destino das doações.

A Fundação também presta consultorias especializadas, muitas vezes às próprias empresas patrocinadoras.

Além disso, também pleiteia recursos na esfera governamental.

 

TAMAR noronha polar star turistas observam soltura tartaruguinhasTuristas do navio Polar Star observam soltura de tartaruguinhas em Fernando de Noronha © Roberto M.F. Mourão, EcoBrasil, 2007 

 

 

Captação de Recursos

 

 

logo TBC paxcaipiraWEB  

 

Albergue Comunitário Matsiguenka

Estudo de Caso

Fonte e Fotos: Roberto M.F. Mourão, Instituto EcoBrasil, 2006


No programa do Ministério do Turismo: Excelência em Turismo, idealizado e parcialmente implementado pelo Instituto EcoBrasil, em 2005, na viagem técnica ao Peru, a programação incluiu visita ao 'albergue ecoturístico comunitário' da Comunidade Matsiguenka, localizada no Parque Nacional Manu.

As comunidades Matsiguenka de Tayakome e Yomibato, com cerca de 150 pessoas cada, vivem de atividades econômicas de subsistência.

Com a intenção de criar alternativas economicas sustentáveis para as comunidades, foi elaborado um projeto de turismo de base comunitária, cujo componente principal era Casa Matsiguenka, construida às margens do Rio Manu, a cerca de 8 horas de barco de suas comunidades. Em 1995, foi fundada a Empresa Multicomunal Casa Matsiguenka, para gerir o empreendimento, que vis a melhoria da qualidade de vida das comunidades.

Em 1997, o projeto foi viabilizado com a criação da parceria entre a Cooperación Técnica do Governo Alemão, via GTZ (agência de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento), o Sistema Nacional de Áreas Naturales Protegidas del Peru (Fanpe-Inrena) e a Asociación Peruana para la Conservación de la Naturaleza (Apeco), que firmaram um acordo autorizando a Empresa Multicomunal Matsiguenka a fazer uso de área na zona de amortecimento do Parque Nacional Manu para construção do albergue de selva.

Em 1999 chegaram os primeros visitantes, iniciando-se a experiência pioneira e autêntica com as comunidades Matsiguenka do parque.

O acesso ao albergue, assim como a outros atrativos e hotéis de selva regionais se faz através do Hub Ecoturístico de Boca Manu.


Acesso à ao Albergue Turístico Comunitário


Bangalô da administração do albergue


Bangalô-refeitório


Vista interna do refeitório


Bangalô-loja de artesanato Matsiguenka


Artesanato Matsiguenka


Cozinha


Bangalô de hospedagem em palafita para evitar umidade


Proteção com buchas de óleo queimado contra insetos


Alojamento rústico com camas com mosquiteiros


Sanitários



Parceiros


GIZ Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
Agência Alemã de Cooperação Internacional
A GTI, ex GTZ, empresa pública de direito privado, foi criada em 1974 com o objetivo de gerenciar os projetos de cooperação técnica. É responsável pela implementação da contribuição alemã, por delegação do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). A Cooperação Técnica constitui um instrumento de aprendizagem conjunta, a partir do apoio a iniciativas inovadoras de desenvolvimento empreendidas por instituições e organizações brasileiras. A contribuição alemã visa a fortalecer essas iniciativas por tempo limitado, até que os beneficiados alcancem uma situação que lhes permita prescindir do aporte externo.

Asociación Peruana para la Conservación de la Naturaleza
Asociacíon Peruana para la Conservación de la Naturaleza - Apeco es una asociación civil sin fines de lucro que, desde su fundación en el año 1982, viene desarrollando concientización sobre "conservación de la biodiversidad" y "desarrollo sostenible" en el Perú, considerándose una de las organizaciones con más experiencia y seriedad en la actualidad. APECO promueve el desarrollo de capacidades a nivel local y regional para consolidar la gestión pública de las aéreas protegidas y de las comunidades relacionadas.

Instituto Nacional de Recursos Naturales
Inrena es un organismo público descentralizado del Ministerio de Agricultura, creado por Decreto Ley, con personería jurídica de derecho público interno, autonomía técnica, administrativa, economíca y financiera. Inrena esta conformado en base a entidades del Ministerio del Agricultura vinculadas al manejo y aprovechamiento de los recursos agua, suelos, forestal y fauna silvestres.

cruzeiros logo lupa navio 

 

cruzeiros ilha grande pousada panoramica1 dez2009
Vista panorâmica da Vila do Abraão © Roberto M.F. Mourão, dezembro 2009

 

cruzeiros ilha grande mapa turistico dez2009As atividades econômicas da Ilha Grande giram em torno do turismo e da pesca, sendo o turismo o maior gerador de empregos e renda. A partir de 1990, para atender esse crescimento da visitação, ergueram-se inúmeras pousadas e restaurantes sem que esse processo tenha sido realizado com qualquer limite ou planejamento.

Ao todo, vivem na ilha cerca de 7.500 pessoas, entre pescadores nativos e ‘estrangeiros’, que aí fincaram raízes. A Vila do Abraão, a maior da ilha e seu “portão de entrada”, tem cerca de 2.000 habitantes, e concentra farta rede de hospedagem, bares, restaurantes, prestadores de serviços turísticos e comércio direcionado ao turista.

A ilha oferece muitas alternativas turísticas: passeios de barco, praias com águas calmas para mergulho e lazer, praias destinadas à prática de esportes como o surfe, trilhas, além de algumas atrações históricas.

cruzeiros ilha grande aluguel equipo mergulho dez2009Até o final da década de 80 a Ilha manteve suas características físicas e uma estrutura social similares às encontradas no continente antes dos anos 70. Permaneciam praticamente intactas varias vilas de pescadores, sendo a pesca - associada ou não ao beneficiamento da sardinha, a principal fonte de emprego dos ilhéus. Havia como alternativa de subsistência a agricultura, com pequeno comércio de banana.

Ainda hoje a população conta com uma parcela razoável de grupos caiçaras originais, que persistiram em suas terras, apesar da pressão dos especuladores.

Muitos ainda vivem da pesca e da maricultura, outros vão se adaptando ao turismo, empregados em pousadas e restaurantes, mas que mantém características culturais de seu grupo social. Muitos dos galpões que abrigaram salgas de sardinha foram transformados em pousadas.

 

cruzeiros ilha grande msc lirica desembarque dez2009
Desembarque de turistas do MSC Lirica no cais da Vila do Abraão © Roberto M.F. Mourão, dezembro 2009

 

 

Análise de Impactos de Cruzeiros Marítimos


Assuntos Correlatos / Para Saber Mais

cruzeiros logo lupa navio

 

cruzeiros royal caribbean solarium
Vista interna de transatlântico © Royal Caribbean Cruise Lines

 

Conflito ABIH x Cruzeiros Marítimos

logo abih nacional

No início de 2007, a Associação Brasileira da Industria dos Hotéis - ABIH iniciou uma batalha contra o crescente aumento dos cruzeiros marítimos nacosta brasileira.

A ABIH alega ser desleal a concorrência que os cruzeiros fazem à hotelaria convencional que sofre impacto direto da sazonalidade. Impacto este que não ocorre nos cruzeiros uma vez que, terminada a temporada, os navios levantam ancora e partem para outros destinos turísticos, enquanto hoteleiros amargam a baixa temporada.

O conflito se agrava com a oferta dos atrativos dos navios de cruzeiro, que inclui cassinos e duty freeshop.

O modismo que passou a ser sonho de consumo turístico, em especial da classe média brasileira, ameaça negócios, afastando turistas da rede de hotéis e estabelece relação desigual entre os empresários do setor de cruzeiros e a hotelaria, embora estas atividades sejam fundamentais para a economia do setor turismo.

O grande perigo reside no fato de que hoje apesar de existirem, as regras brasileiras que controlam o mercado de cruzeiros ainda são brandas e com problemas tais como o colapso de portos e reclamações de passageiros, podendo forçar o ajuste das regras como p.ex. aumento da porcentagem de tripulantes brasileiros, impostos, etc.

A disputa Hotelaria x Cruzeiros, momentaneamente estabilizada ganhara proporções maiores que possivelmente os cruzeiros irão perder, face a ganância dos agentes e das companhias que operam quase 20 navios em um mercado em evolução para todos os envolvidos - passageiros, tripulantes, agentes de viagens, portos e cidades.

Comparativo Cruzeiros Marítimos (excursionista) x Hotelaria (turista)

A tabela baixo é uma comparação entre passageiros de cruzeiros (excursionistas) e hóspedes em pousadas (turistas) em Fernando de Noronha, considerando que os cruzeiros permanecem por 1 dia no arquipelago e os turistas ficam por 7 dias. 

cruzeiros comparativo noronha cruzeiro pousada

 

cruzeiros norwegian getaway
Piscina do transatlântico Norwegian Getaway © Norwegian Cruise Lines

 

 

Análise de Impactos de Cruzeiros Marítimos


Assuntos Correlatos / Para Saber Mais